
Leitura: Mateus 21:23-31
Fazer ou não fazer a vontade de Deus e as consequências que essa escolha implica é bem ilustrada neste texto do evangelho de Mateus. O pai dos dois rapazes fez o mesmo pedido a ambos: Que fossem, naquele dia, trabalhar na sua vinha. O primeiro deu uma resposta agreste: Não quero; mas depois, arrependendo-se, foi. O segundo assegurou ao pai, com toda a delicadeza, que iria trabalhar na vinha, mas não cumpriu com a sua palavra.
Os que ouviram Jesus concordaram que o primeiro filho fez a vontade do pai. É certo que, num primeiro impulso, disse ao pai que não queria obedecer-lhe, que não estava disposto a cumprir a sua vontade. Mas, pouco depois, arrependeu-se do que tinha dito e foi trabalhar na vinha.
Não há dúvida que ambos sabiam qual era a vontade do seu pai, porque este a tinha feito saber com toda a clareza. Deliberadamente, porque eram livres para tomar uma decisão, o primeiro satisfez a vontade do pai e o outro não.
A questão de como descobrir a vontade de Deus para a nossa vida e de a seguir em todas as circunstâncias é objeto de grandes discussões e de muita teorização de experiências pessoais, por vezes alcandoradas a verdades infalíveis, que espalham a confusão e não tem qualquer fundamento bíblico.
Há pessoas cristãs, sobretudo de idades mais jovens, que passam tempos de ansiedade em busca da vontade de Deus para as mais diversas tomadas de decisão, inerentes à vivência humana em sociedade. Destacamos, de entre essas preocupações, o namoro, o casamento, os estudos a seguir, a carreira profissional a escolher e até a forma de aproveitamento dos tempos livres e do lazer.
Estudando as escrituras, somos confrontados por ensinamentos simples e concisos, como o texto de que falamos, que se nos apresentam, de algum modo, divergentes desta procura sistemática, de querer conhecer antecipadamente a vontade de Deus para cada uma das decisões que nos compete tomar.
Verificamos que a nossa responsabilidade é obedecer a Deus Pai, que fez questão de nos informar da sua vontade, revelada nas escrituras sagradas, que constituem, para nós, discípulos de Jesus, a única regra de fé e prática.
“Porque não vivemos de acordo com as normas deste mundo, mas somos transformados adquirindo uma nova mentalidade,” está ao nosso alcance “compreender a vontade de Deus, isto é, o que é bom, o que lhe é agradável e o que é perfeito”, tão claramente como os filhos, na parábola, compreendiam a vontade do seu pai.
Só chegaremos a este patamar através da leitura e meditação das escrituras, da prática da oração assistida pelo Espírito Santo, da aprendizagem contínua da doutrina de Cristo e do relacionamento subsequente com Ele, e uns com os outros.
Se assim não fosse, o próprio Jesus não pronunciaria sentença tão categórica sobre os principais sacerdotes e os anciãos do povo, que apresentou como protagonistas.
Jesus está perante as autoridades mais representativas da religião judaica, Eles são os herdeiros das promessas feitas pelo próprio Deus, e é sobre estes sagrados dignitários que pronuncia as terríveis palavras: Em verdade vos digo que os publicanos e as prostitutas entrarão primeiro do que vós no reino de Deus.
Mas, como é possível, que homens consagrados ao serviço do único Deus verdadeiro, responsáveis pela observância da lei de Moisés, oficiantes do culto sacrificial instituído nas escrituras, sacerdotes ungidos como intermediários entre o povo e Deus, sejam assim tratados por Jesus?
A resposta está no texto: “É que João Batista veio ter convosco para ensinar o caminho da salvação, mas vocês não acreditaram nele. No entanto os cobradores de impostos e as prostitutas acreditaram. Vocês, porém, mesmo depois de terem visto estas coisas, não acreditaram nele, nem se arrependeram.”
No caso referido, a vontade de Deus consistia numa atitude clara de adesão à mensagem do profeta João Batista. Acreditar nesse anúncio, implica aceitar que Jesus Cristo é a vítima inocente, sacrificada para restabelecer a reconciliação e comunhão entre o homem e Deus e vice-versa. Sendo esta a única ligação possível entre o Deus santo e o homem pecador rejeitá-la significa negar a possibilidade de viver a vontade de Deus na sua vida.
Ao contrário destes dirigentes religiosos judaicos, os publicanos, rejeitados pela sociedade como pessoas sem caráter e pecadores sem escrúpulos, e também as prostitutas, seres da mais baixa moralidade, convenceram-se da sua própria indignidade, arrependidos pediram perdão dos seus atos e cumprem agora, nas suas vidas a vontade de Deus.
Viver de acordo com a vontade de Deus está acima do simples cumprimento dos atos religiosos de louvor e adoração, dos sacrifícios, da oração individual e comunitária, do anúncio da palavra.
O nosso modelo é Jesus, aquele que sempre obedeceu ao seu Pai, em todas as circunstâncias.